sexta-feira, 2 de março de 2012

A VERDADEIRA FORTUNA DE JANGO


Consta em dicionários de língua Portuguesa que o significado de “destino” é sinônimo da palavra “fortuna”. E é justamente sobre destino que devemos pensar ao elaborarmos qualquer consideração que envolva o Presidente Jango. Em recente artigo publicado em Zero Hora intitulado “Biografia de João Goulart”, seu autor Sérgio da Costa Franco torna pública sua preocupação com a fortuna de Jango. Mesmo deixando claro sua rejeição ao biografado no texto, percebe-se a insinuação explícita sobre enriquecimento ilícito. São suas palavras: “À construção da grande fortuna do biografado, Jorge Ferreira dedicou apenas um ou dois parágrafos”.
Falamos aqui sobre uma biografia de 700 páginas do Professor carioca Jorge Ferreira, excelente obra para todos aqueles verdadeiramente interessados em conhecer um pouco mais sobre um personagem marcante na história do Brasil. Mas mesmo em extensa biografia, explicitando minuciosamente a obra política de Jango, os velhos representantes do conservadorismo reacionário, responsáveis pelo golpe civil-militar de 1964 e pela manutenção da Ditadura de terrorismo de Estado não conseguem prestar atenção para além de “um ou dois parágrafos”.
É este o destino de Jango, que completaria 93 anos no dia 1° de março. É esta a sua fortuna. Ser permanentemente atacado por quem nunca abriu mão de privilégios absurdos. Atacado por quem nunca admitiu o fato de que um fazendeiro deveras muito rico tivesse a iniciativa de realizar uma Reforma Agrária, contrariando grandes latifundiários que até hoje entravam a plena produtividade de nossas terras. Porque no Brasil da década de 60, inserido no contexto internacional de Guerra Fria, não era cogitado um rico estancieiro Presidente colocar em prática a entrega de 10 milhões de pequenas propriedades rurais para famílias de trabalhadores rurais, com o objetivo de produção para fortalecer o mercado interno nacional.
Pergunto-me hoje, qual a dificuldade em assimilar que Jango tinha sim uma visão de Estado que continua válida até hoje? Em reconhecer que as reformas de base colocariam o Brasil no rumo certo do desenvolvimento absoluto? É estarrecedora a percepção de que velhos conceitos apegados a uma ideologia retrógrada se mantenham inertes. Portanto, necessário se faz reconhecer a grandeza de Jango, o jovem advogado de obscura passagem pelos bancos da UFRGS que em dezessete anos de vida pública foi de Deputado Estadual até a Presidência da República.


A fortuna de Jango? Sim, claro. Seu pai, o Coronel Vicente, já era um fazendeiro muito rico, com terras na Fronteira Oeste. Único herdeiro homem, Jango herdou e triplicou sua fortuna, muito antes de seu primeiro cargo público de Deputado Estadual em 1947. Fortuna ou destino, reservada para aquele que seria o perseguido político número um da ditadura militar, Presidente investigado a exaustão por todos os tipos de Generais de plantão que nunca encontraram nenhum tipo de desvio em relação ao seu enriquecimento. Sua fortuna foi morrer na solidão do exílio. Está na biografia já referida, para aqueles interessados em mais de “um ou dois parágrafos”.

Christopher Goulart
Presidente do Memorial João Goulart
Neto de Jango
       

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