Uma tarde em São Borja...entre hermanos

Esta foto foi tirada na casa dos pais de Jango, Coronel Vicente e Dona Vicentina

Goulart.

Da esquerda para a direita: Neuza, uma prima, Jango e Tarcila (Cila), minha sogra.

De uma família de sete filhos, estes três eram os mais moços, tinham pouco tempo de diferença de idade, aí se explica a amizade entre eles. Tiveram o mesmo destino: o exílio.

Neuza casou-se com Brizola, minha sogra com João Luiz Moura Valle, jornalista do Diário de Notícias, redator político que escrevia os discursos do cunhado. Eram grandes amigos e cúmplices naquela jornada. Foi proibido de escrever e perseguido durante o golpe, também teve que se exilar com a família.

Na ocasião da foto, felizes enquanto todas as possibilidades lhes pertenciam.

Mais tarde no exílio, passaram todos os tipos de privações e humilhações. Meu marido Vicente Luiz contava que quando em 1966 a seleção foi jogar no Uruguai, Pelé avisou a todos para não chegarem perto dos exilados. Isto marcou profundamente as crianças, que longe de sua pátria queriam desfrutar de seus ídolos. Quando Brizola ganhou o primeiro governo do Rio de Janeiro tive a oportunidade de assistir a revanche de meu marido. Fomos convidados para uma grande festa no apartamento do Saad, no edifício Choppin; estávamos com a Neuzinha e outros jovens da família. De repente surgiu Pelé convidando para uma reunião privée pois queriam nos conhecer. Vicente levantou e disse: "por que agora? Me desculpa mas nós não vamos. Em 1966 com a seleção no Uruguai recomendaste a todos para nos evitar."

Tive vontade de me atirar embaixo da mesa. Quando meu marido dizia: "me desculpa," podia me esconder pois lá vinha bomba.

Ontem, foi inaugurado em São Borja, o museu de Jango com a colaboração dos filhos João Vicente, Denise e alguns familiares, como Maria da Graça Lopes de Almeida, na casa da família Goulart.

Hoje, fiquei sabendo através da Neuzinha Brizola, que o único que fugiu do grupo foi o Bellini, para visitar seu pai.