quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sob as luzes do Natal


Uma árvore, ainda mais onde moro (e não moro "apenas" em Porto Alegre, nem em São Borja, um dos portos de partida e de chegada neste blog; nem em Paris, outro porto, mas sim na blogsfera, porto eterno e infinito), aqui uma árvore protege, dá sombra no calor, dá frutos no outono, dá flores na primavera... e dá luzes no Natal.
Não dava luzes nos Natais da minha infância, herdeira de tradições arraigadas de família judaica. Não dava nem mesmo uma mísera arvorezinha natalina em casa, a sala quase despida, nua de alegrias infantis não fossem os móveis de bom gosto escolhidos por minha mãe culta porém filha de costumes severos.
Levei anos para ver um Natal de perto, para ter um Natal que me acolhesse com seus rituais que a religião de minha família não engolia. A menininha de cachos dourados, naquele tempo mais que companheira, a menininha que era eu mesma, ela escutava a vizinhança brindando, ela ouvia os fogos de artifício quando já estava deitada na cama, posta para dormir, mas incapaz de pregar o olho.
Na manhã seguinte, via os amiguinhos, os vizinhos, e tantas crianças estranhas pelas ruas e calçadas com uma alegria luminosa nos olhos e brinquedos novos nos braços. E ela, a menininha, sem nada. Obediente à educação que recebera, mas com um gostinho de frustração que levaria alguns anos até ir embora. Até seu primeiro e legítimo Natal.
Natal que ela passou em...
Anos depois, testemunha de tempos de maior liberdade cultural (e de maior censura política), eu me daria em dobro nos Natais, por todos os que perdera na infância, para mim e para a menininha que eu trazia comigo, minha eterna companheira, amiga e confidente, parceira na esperança e uma espécie de Grilo Falante, minha consciência muda (que só eu escutava, ninguém mais). Essa menininha merecia Natais no presente que compensassem todos aqueles que não aconteceram no passado.
Eu também.
Em Paris passei Natais que só em Paris acontecem, de um jeito parisiense de ser. Cada país tem o Natal que merece, o Natal que pode, o Natal que sabe fazer. Mas tem! Cada país, não. Mas praticamente todos os países do mundo. Com exceção de poucos, tão poucos que são exceção, e o que conta, aqui, é a regra. A exuberância da quantidade, a riqueza da multiplicidade. E são centenas de pátrias onde em cada casa, em cada apartamento, em cada parque, em cada logradouro, uma árvore, pequena, média ou grande, adornada de luzes, bolas coloridas, estrelas na ponta mais alta, se destacam para os olhos desejosos da confraternização, querendo esse diálogo universal em que nos desejamos, uns aos outros, sinceramente, o melhor.
Eu desejo.
É o primeiro Natal em meu blog. Que a data cubra os cerca de 22.000 visitantes deste espaço até agora com o estímulo de novos projetos, planos para o futuro, energia no presente, e, tomara!, a lembrança de um passado no qual também árvores luminosas – que viraram um dos mais marcantes símbolos da Terra – habitavam suas infâncias e afastavam todas as sombras e o peso de alguma sensação ruim.
O Natal é uma espécie de Carnaval solene, uma espécie de Carnaval familiar, um tipo singular, original, de ritualizar não tanto o nascimento do salvador, mas a nossa própria salvação, que brota da capacidade de alegrarmo-nos e de dividirmos com os amigos e com todos os demais a disposição de seguir em frente rumo a um futuro que faça deste presente um passado que nos orgulhe lembrar.
Feliz Natal, amigos blogueiros! Feliz Natal, leitores, visitantes, passantes por esse território onde sempre haverá uma árvore. Para dar sombra, sim, se for no verão. E, hoje, para dar luz nesta noite mágica, quando desejamos afastar para bem longe toda e qualquer escuridão.
Feliz Natal!!!
Marta

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Marta, que tocante essa mensagem! Me senti muito, mas muuuiiito abraçada pelo seu escrito. Isso é que é forma de comemorar com todos os que - como eu - te leem. Continuarei a te ler. No Natal, no Ano Novo, no Carnaval, na Páscoa, nos dias chuvosos de inverno, no Dia das Crianças, na próxima Feira do Livro, e, óbvio!, no Natal do ano que vem.

Boas festas para voc~es, que faz deste blog uma festa permanente.

Lygia Marcondes Freitas (Vitória, ES)

Anônimo disse...

Visitarei este blog sempre que estiver navegando. Para abrigar-me na sombra boa dessas árvores e, quando for a época, para curtir as luzes que vocês, pessoa luminosa, costuma oferecer no que escreve. Seu presente de Natal é tudo isso que você oferta a quem te acompanha nesse material tão "pra cima"! Parabéns e um brinde!

Armando Freitas Neto (Rio de Janeiro, RJ)