quarta-feira, 31 de março de 2010

Texto de Christofer Goulart
(Neto de Jango)


46 anos de um golpe contra o povo brasileiro

“Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República”! Foi o que se ouviu na sessão do Congresso, presidida pelo senador Auro de Moura Andrade no dia 1ª de abril de 1964. Sobre a mesa do Presidente golpista, estava uma carta assinada pelo chefe da Casa Civil Darcy Ribeiro, informando que o Presidente da República, Sr. João Goulart, encontrava-se em território nacional, no Rio Grande do Sul, em pleno exercício de seus poderes constitucionais. Dessa forma, foi rasgada a Constituição Federal de 1946, pois a decretação da vacância somente poderia ocorrer em caso de o Presidente se ausentar do país sem permissão do Congresso.
Era necessário a todo custo configurar legalidade a um golpe militar, transformando-o num golpe constitucional. Era necessário obter o reconhecimento internacional do novo governo arbitrário, para adquirir aptidão de manter relações com os demais componentes da sociedade internacional. Ao assumir a Presidência o primeiro ditador de plantão, General Castelo Branco, pronunciou em seu discurso: “Meu procedimento será o de um chefe de Estado sem tergiversações no processo para a eleição do brasileiro a quem entregarei o cargo a 31 de janeiro de 1966” E assim a população brasileira foi submetida a uma mentira que perdurou 21 anos.
Analisar o golpe civil-militar de 1° abril de 1964 implica em conhecer o contexto geopolítico do mundo na década de 60. Os Estados Unidos, preocupados com a expansão do comunismo, principalmente depois da revolução Cubana de 1959, dedicavam atenção especial ao Brasil, que tinha na Presidência da República um gaúcho adepto ao princípio da autodeterminação dos povos, e do não alinhamento econômico exclusivo com o Ocidente. Por isso, de acordo à declaração pública do ex-embaixador dos Estados Unidos Lincoln Gordon, falecido recentemente, foi na reunião na casa branca de 30 de julho de 1962 que foi mencionado pela primeira vez a possibilidade de um golpe contra João Goulart diante do Presidente Kennedy.


A CIA patrocinou a campanha de deputados e senadores que fizeram e/ou permitiram a fraude da declaração de vacância da presidência. A CIA também patrocinou passeatas e usou o manto sagrado de Deus e da Família para recrutar colaboradores em todas as camadas de nossa sociedade. Hoje, estas pessoas, autoridades, senadores, deputados, generais, empresários, funcionários públicos e muitos outros só podem ser considerados inocentes úteis ou traidores na História do Brasil.
Nosso país precisa conhecer o valor do Estadista que preservou a unidade nacional, ao evitar uma guerra civil, quando a tirania movida por interesses estrangeiros tomou conta do Brasil. Nosso país precisa urgentemente entender o projeto de Nação derrocado pela quartelada de 1964, para assimilar o prejuízo sofrido com a ditadura militar e retomar o caminho da justiça social.


Christopher Goulart
Presidente da Associação Memorial João Goulart

Um comentário:

Carla Volkart disse...

Reveleções HISTÓRICAS como esta não deveriam parar de acontecer, em especial sobre a saga de João Goulart no RS-BRASIL. É claro que para implantar o militarismo tudo deve ter sido escondido ou destruído. Mas independente da facção tomada na época, minha geração é FRUTO, e como tal, não pode ficar sem conhecer todas as facetas da sua origem. Ficamos acéfalos pelo desconhecimento histórico da Revolução de 64. Graças a textos reveladores como os teus, Christopher Goulart, talvez possamos assentar uma poeira sufocante que por 50 anos intoxica nossas mentes. Seria extremamente importante da tua parte CONTINUAR A REVELAR OS FATOS e teu senso crítico inclusive. As conclusões cada qual que encontre as suas, mas pelo menos agora com "conhecimento de causa". Bom demais teu texto. Parabéns! Eu fico na torcida para acontecerem os próximos (muitos). Carla Volkart