sexta-feira, 23 de abril de 2010

Novo 'Alice' não faz jus à obra de Carroll nem de Burton

Por Carla Navarrete, da Redação Yahoo! Brasil

Mais de um mês e meio após ter estreado nos Estados Unidos, finalmente chega ao Brasil um dos longas mais aguardados dos últimos tempos. A partir desta sexta-feira (23), entra em cartaz nos cinemas de todo país a versão de Tim Burton para "Alice no País das Maravilhas", em cópias 3D, Imax e 35mm.


Tamanha demora teve lá sua explicação: a Disney decidiu pelo adiamento no país para que a produção não competisse com o arrasa-quarteirão "Avatar" na disputa pelo público das salas 3D. Ainda assim, uma estreia logo no início de abril teria sido mais do que suficiente para impedir um embate com o longa de James Cameron. E evitado que muita gente perdesse o interesse pelo filme - o que com certeza aconteceu por aqui.

Quando há pouco mais de dois anos surgiu o anúncio de que Tim Burton filmaria "Alice no País das Maravilhas", a impressão geral foi de que não havia diretor mais perfeito para recontar a clássica história infantil. O projeto ficou ainda mais forte com o anúncio de que Johnny Depp, seu fiel parceiro de filmes, faria o papel do Chapeleiro Maluco.

O resultado, porém, pode ser um tanto quanto decepcionante para quem é fã da obra de Burton, apesar da boa resposta do público nas bilheterias internacionais. Mesmo com todo o virtuosismo do diretor, e sua própria visão do universo fantástico de Lewis Carroll, a trama em si deixa um pouco a desejar.

Para fugir do lugar-comum, Burton optou por não seguir ao pé da letra a história original. Assim, mescla personagens dos dois livros de Carroll, "Alice no País das Maravilhas e "Alice Através do Espelho" em um filme só. Já a sua Alice (vivida por Mia Wasikowska) deixou a infância faz tempo.

Aos 19 anos, a protagonista está prestes a ser pedida em casamento pelo insosso Hamish (Leo Bill), em um acordo de conveniência. Do País das Maravilhas, também conhecido como Mundo Subterrâneo, só restaram algumas lembranças que a jovem acredita não passarem de sonhos.

Ao avistar um coelho no jardim, Alice o segue até uma toca, em uma sequência deveras familiar. A partir daí, é tudo mais ou menos igual ao original: a garota encontra uma porta e uma chave para abri-la, bebe uma poção e encolhe, depois come um bolo e cresce, até que finalmente consegue adentrar o Mundo Subterrâneo.

Lá, Alice reencontra alguns amigos do passado, como o Coelho Branco, o Gato Risonho e os gêmeos Tweedledee e Tweedledum. No entanto, ninguém tem certeza se trata-se da mesma jovem que visitou o lugar anos atrás. O Chapeleiro Maluco (Deep) é o único a reconhecê-la de verdade.
Alice, então, descobre que é a apontada como a única capaz de derrotar o terrível monstro Jaguadarte e destronar a malvada Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), que deixou o Mundo Subterrâneo sob trevas. Para isso, contará com a ajuda de toda a turma, incluindo a gentil Rainha Branca (Anne Hathaway).

Daí em diante, o longa vira mais do mesmo e se transforma em mais uma aventura infanto-juvenil épica como tantas outras, deixando de fazer jus tanto à obra de Carroll quanto à de Burton. No final, acabou ficando mais com a cara do estúdio que o produziu (no caso, a Disney), do que com a do diretor.

Ainda assim, tem seus pontos positivos, como a produção técnica impecável, cujos cenários são um deleite para os olhos do espectador. A tecnologia 3D, porém, neste caso não faz tanta diferença como em "Avatar", que sem ela perde totalmente a graça.

O diretor também acertou ao convidar a mulher Helena Bonham Carter para o papel da histérica Rainha Vermelha - ela está perfeita no papel. Já Depp dá uma outra dimensão ao Chapeleiro Maluco, aqui mostrado como um ser torturado que intercala momentos de sanidade com outros de loucura.

Para o bem ou para o mal, este é o tipo de filme que deve ser visto para que se tire as próprias conclusões. Não é a melhor obra de Tim Burton, mas ainda assim é acima da média em relação ao que Hollywood produz por aí.

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