segunda-feira, 14 de junho de 2010

ELEIÇÕES E FUTEBOL

O Brasil vai parar. Com a seleção canarinho em campo, a copa do mundo na África do Sul passa a ser o centro das atenções, e como num toque de mágica, durante um mês inteiro estaremos dando mais importância às seleções do que aos nossos problemas sociais. Afinal, copa só tem a cada quatro anos. Eleições pra Presidente também. E no Brasil, desde a redemocratização do país em 1985, os mundiais de futebol coincidem com anos eleitorais.

Durante a Copa, ninguém vai lembrar que continuamos sendo um país com um dos maiores índices de concentração de renda do mundo. Afinal, num país para poucos, o importante é bola na rede. Não vamos lembrar que somos uma nação que segue uma rotina de privilegiar privilegiados, sem tentativas frutíferas de intervenção programada na distribuição de renda.

Enquanto os 10% da população brasileira, que concentram mais de 75% de nossas riquezas, estarão olhando os jogos em televisões de última tecnologia, em poltronas confortáveis, a imensa maioria de nosso povo permanecerá na busca desesperada de um pretexto esportivo para esquecer a dura realidade econômica e social. Pensar em reformas estruturais e institucionais do estado brasileiro em ano de copa? Pra que? Eu quero é o hexa.

Quem vai querer saber, em ano de copa, que reformas profundas como a abolição da escravatura, a proclamação da República, a revolução de 30, a promulgação da CLT, a título de exemplo, representaram uma quebra na ordem injustamente estabelecida na história do Brasil, pelos mesmos detentores de privilégios exorbitantes de hoje. Num novo ano eleitoral, temos o dever cívico de acreditar que só a participação popular efetiva nas decisões governamentais permitirá sermos um país de primeiro mundo. Já é hora envolver a sociedade no debate de reformas urgentes.

Certo é que durante a copa do mundo ninguém vai pensar num amplo debate sobre a reforma agrária, para fortalecer nosso mercado interno e tornar o solo nacional um patrimônio produtivo em toda sua extensão. Ou então numa reforma educacional ampla, com o objetivo de formar cidadãos para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Reforma tributária, com uma orientação voltada para a redução da concentração da riqueza, que tenha impacto sobre a distribuição de renda. Nada disso.

Então, depois que o capitão Lúcio levantar a taça, que tal lembrarmos que também somos campeões mundiais de concentração de renda, e pentacampeões em concentração de riquezas? Um novo projeto de ruptura ou mudança histórica poderá estar iniciando neste ano de futebol e eleições. Depende de nós.

Christopher Goulart
Presidente Associação Memorial João Goulart.


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