quarta-feira, 9 de junho de 2010

Uma eterna escola de vida


Escrito por Leonel Brizola Neto


Meu avô era um homem realmente admirável! Com ele tive oportunidade de me educar e aprender política da maneira mais natural possível, através do seu exemplo. E que bons exemplos meu avô me passou...

Uma das coisas que eu mais admirava era sua disciplina: todo o dia acordava cedo, às 6 horas, lia todos os jornais, e logo fazia uma lista para falar com autoridades, companheiros de partido, amigos, família, e assim começava seu dia, para só parar às 11h da noite, sempre alegre. E que sorriso tinha o Brizola...
Admirava a forma carinhosa como ele tratava minha avó chamando-a de minha queridinha. Ela foi seu grande e único amor. Nunca tirou a aliança e nem assumiu outra publicamente, mesmo depois de viúvo, respeitando seu grande amor. Até neste aspecto ele era singular, cavalheiro, sempre gentil. Nunca o vi desrespeitar nem tratar mal a uma mulher. Quando criou o programa “cada família um lote” estipulou que o mesmo ficasse em nome da mulher, porque a via como o sustentáculo da família. Em caso de separação, estaria garantido o teto para a família. Todas as suas ações me mostraram desde pequeno a importância e o valor das mulheres na sociedade.
Tudo isso me fazia perceber como ele era evoluído. Tratava todos igualmente, do mais pobre ao mais rico e poderoso. Nunca o vi perder a paciência, e sempre tinha uma palavra doce nas horas amargas da vida. Até mesmo quando nos dirigia palavras duras, mas corretas, na hora de puxar nossas orelhas, sentíamos que era para nosso bem, para nos educar. Hoje, adulto, vejo o quanto isso é difícil e raro, pois todo pai, ou avô, quer o melhor para seu filho ou neto, e mesmo assim o mais comum é errar na dose, para menos ou para mais.
Meu avô Brizola era elegante em seu equilíbrio. Seu exemplo de vida era um eterno ensinamento. Após a morte de minha avó, Neuza, ele assumiu de vez o papel de reunir a família, sempre atencioso e preocupado. Nunca deu moleza nem passou a mão em nossa cabeça no sentido de ser complacente com qualquer fraqueza de nossa parte. Assim, me fez entender, através do trabalho duro, a importância da vida, das pessoas, da sociedade, e do país. Por isso, eu e meus irmãos, apesar de netos do governador, trabalhávamos desde cedo, por volta dos 16 anos, e com o fruto de nosso trabalho, ajudávamos nossa mãe nas despesas da casa.
Quando criança, eu lembro a gente brincando no jardim, em Itaipava, e ele ficava de cabeça pra baixo, sem colocar as mãos no chão. Eu ficava impressionado com seu equilíbrio e postura ereta! Lembro também de como ele imitava igualzinho o canto dos passarinhos. Era fabuloso ver aquele homem importante ser ao mesmo tempo tão simples e atencioso, numa entrega total, com naturalidade e alegria.
Às vezes observava suas conversas, de longe, só para admirá-lo, e ele dominava sempre a cena contando suas histórias, encantando quem estivesse sentado naquele sofá, ou à mesa, durante a refeição, quando ele fazia questão de servir pessoalmente os convidados. Nunca conheci alguém que soubesse tratar melhor uma visita do que meu avô Brizola, sempre servindo, preocupado em deixar a visita à vontade, como se estivesse em sua própria casa. Uma verdadeira aula de etiqueta, que nada mais era do que a manifestação espontânea de seu espírito humanista de amor ao próximo, de respeito ao semelhante.
Esta simplicidade elegante, sua energia e imensa alegria eram contagiantes. Seus almoços eram simples: salada, arroz, feijão, e um bom bife. Em Itaipava, um arroz carreteiro e um vinho honesto para compartilhar suas histórias com as visitas. Não tinha luxo, mas estes momentos eram divertidíssimos, históricos, e de puro encantamento para todos. Adorava vê-lo com seus amigos, conversando sobre o país, lembrando fatos da história, uma verdadeira aula de vida, de humanidade e de Brasil!
Meu avô me mostrou na prática muitas coisas, entre elas, como se constrói a democracia. Me fez amar o Brasil e o seu povo, me fez ver que todos são iguais e que por isso merecem oportunidades iguais, me fez respeitar muito o trabalho político e a vida partidária. Ele me ensinou que a participação política se dá através dos partidos. Por isso, devemos fazer tudo para fortalecer o nosso partido e colocar em prática os ideais pelos quais lutamos.

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