sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O DIA SEGUINTE

PAULO WAINBERG
Twitter.com/paulowainberg


“Tempos modernos, ok. O ex-presidente da Vale do Rio Doce, durante o período da ditadura, não podia imaginar que geraria o maior empresário brasileiro dos tempos modernos. Todos admiram e invejam a genialidade de Eike Batista, só se fala nele hoje, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio. Os filhos do ex-ministro das comunicações Mendonça de Barros, nos tempos modernos, constituíram a maior corretora do Brasil e se tornaram imbatíveis, nos mercados de renda variável, principalmente nos difíceis mercados de índices futuro. Só olharam para seus movimentos nos tempos modernos, com admiração e inveja. Verdadeiros gênios. O ex-Presidente FHC só descobriu as imensuráveis qualidades de seu filho, na arte e comercio internacional de feiras e congêneres, depois de assumir o cargo. Só se fala nele, com admiração e inveja, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio, sem falar de seu genro, autoridade incomum no campo do petróleo. Verdadeiros gênios. Finalmente, sem surpresa, o filho do presidente Lula, antes simples bancário. Um gênio, realmente, com aptidão singular na fabricação e comercialização de jogos eletrônicos, sem falar de sua enorme visão micro e macro econômica. Claro, temos ainda, nos tempos modernos, os geniais Senadores da república, cujo patrimônio, após assumirem o cargo, aumenta de forma exuberante. São gênios com tempo certo para se revelar. Todos ricos, podres de ricos, milionários, graças ao Brasil, na verdade um país de gênios. O que se precisa é dar oportunidade para que possam acordar. Acordem, futuros Gênios.” (Arthur Wainberg)





O texto acima foi enviado por meu irmão, Arthur Wainberg, e é de uma lucidez absoluta. Ele constata que, basta alguém assumir cargos de mando e poder, para que seus familiares revelem notáveis qualidades para amealhar fortunas.


É tão vergonhoso o que acontece neste País, tão escancarado e tão impune, que a imprensa noticia, as pessoas se escandalizam e... nada acontece.


Os fatos narrados pelo Arthur são de envergonhar o dono da padaria, a faxineira lá de casa, o meu proctologista, sei lá, o Sarney e o Renan, talvez?


Por acaso a prole de Dilma irá revelar dotes de genialidade, até agora cuidadosamente ocultados como um terrível segredo de família?


Sim, porque os outros gênios apontados foram obrigados, pobre deles, a esconder seus notáveis dotes por longos anos, mostrando-se ao público como pessoas comuns, membros da média, exercendo suas atividades funcionais como se fossem um qualquer.


Imagino as noites terríveis que passavam, escondidos nos seus quartos, elaborando projetos extraordinários que não podiam revelar, afinal seus pais ainda não eram presidentes de nada nem ministros ou míseros senadores da república.


Horas e horas, semana após semana, sentados diante dos psiquiatras, analisando suas inconformidades:


– Por que papai não deixa eu me mostrar? Por quanto tempo ainda vou ter que esperar, até que ele seja Presidente?


E o psiquiatra, impassível e amorfo:


– O que você pensa sobre isso? Sua revolta não será porque é ele quem dorme com sua mãe?


Como diz o ditado, quem espera sempre alcança. Finalmente seus pais presidiram, e eles puderam revelar ao mundo a qualidade superior que os transformou, rapidamente, em  gênios empresarias e, logo, milionários.


Hoje, no dia seguinte ao pleito que elegeu Dilma, novos governadores, deputados e senadores, veremos surgir no Brasil novos gênios, até agora ocultos?


Quantos filhos falsamente medíocres alçarão vôo em negócios internacionais, empreendimentos fabulosos, projetos mirabolantes, cultivados como fermento do patrimônio familiar?


Honestamente falando, espero que nenhum. Mas não levo muita fé em meu desejo, sendo as coisas, neste País, do jeito que são.


 No dia seguinte às eleições, a sensação é de que nada mudou. Dilma alardeando seus compromissos fundamentais, suas missões prioritárias e sua contensão tributária.... e já pondo, na pauta das metas governamentais, a recriação da CPMF.


Tudo igual, igualdade como nunca antes se viu, neste País.


José Serra, alegre, sorridente, feliz e aplaudido como se tivesse ganho a eleição, afirmando, de novo, que está apenas começando, que está no início da luta, numa ameaça implícita de que pretende, ai de nós, concorrer de novo a Presidente.


O PMDB, o partido mais corrupto deste País, o partido que deu sustentação política à ditadura, correndo alucinado em busca dos cargos, principalmente os do segundo escalação, onde a vida é mais fácil, menos pública e a roubalheira corre solta.


No PT, os velhos comanches erguem a voz, o primeiro deles, que ouvi falando no rádio segundos após o resultado, José Dirceu, velho de guerra. Ávido pelo poder e seus benefícios.


O nordeste se defende das acusações do leste, sudeste e sul, de ser boiada de Lula e seus bluecaps, Sarney e seus asseclas, Renan e seus marimbondos, mesmo que seja.


A única notícia boa é que Collor não se elegeu nas Alagoas.


Em suma, um dia seguinte exatamente idêntico ao dia anterior.


Por isso, com pesar, constato que meu irmão tem razão. Chegou a hora e, como ele diz, acordem, futuros gênios!!

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