quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Despedida de solteira

Danuza Leão - colunista revista Claudia

Outro dia fui almoçar com um casal que se ama muito e já mora junto. Num determinado momento, surgiu o assunto do casamento. Claro, se eles estão tão bem, tão felizes, por que não se curvar ao que as famílias mais querem? E começou-se a falar da festa. Ela disse que pensava em um almoço – pequeno, para não mais de umas 50 pessoas. “Cinquenta?”, perguntou ele, já apavorado, e continuou: “Nem vão caber na casa”. Ela então declarou que sua lista era pequena: o pai, a mãe, o irmão e apenas seis amigas. Detalhe: a mãe com o novo marido, o pai com a nova mulher, as seis amigas e o irmão com os/a respectivos/a.
Aí, ele começou a fazer a lista dele: a mãe, a irmã com o namorado, os três filhos do primeiro casamento dessa irmã com as esposas e mais cinco crianças. Isso sem falar dos amigos pessoais, não mais que seis, e de dois colegas de trabalho acompanhados, mais quatro.
A noiva começou a não gostar. Criança pequena é muito cansativo, todo mundo tem que dizer o tempo inteiro “que gracinha”, e elas viram a atração principal da festa. Não, neste casamento, sem crianças. Foi quando o noivo lembrou que os próprios filhos, de um casamento anterior, iriam levar as namoradas, claro. Mas, se eles trocavam o tempo todo, por que razão elas tinham que ir também? Ele não abriu mão, ela também não, e pelas 6 da tarde, quando eu saí, tinham quase mudado de ideia, achando que não era preciso casamento nenhum. Não tive coragem de telefonar na semana seguinte para saber se continuavam juntos.
Eles se conheceram numa viagem. Em um restaurante de Madri sentaram em mesas vizinhas; ele ouviu quando ela fez o pedido e perguntou: “Brasileira?”, e daí foi surgindo o amor. Os dois tinham uma certa experiência e sabiam o que evitar para que aquela vez desse certo, e foi dando. Quando voltaram para o Brasil, não anunciaram ao mundo que haviam se encontrado, que estavam felizes. Por uma certa superstição, talvez, durante um bom tempo, pouco saíam de casa, não se reuniam com amigos. Mas um dia o telefone tocou, ela atendeu, era alguém da família dele, as coisas foram acontecendo e aí não teve jeito: viraram um casal.
É bom formar um casal. Bom, mas tudo tem seu preço. Adeus, sábados e domingos da cama para o sofá, do sofá para a cama, pedindo um sushi de madrugada; adeus às noites vendo muitos filmes antigos sem atender o telefone, viva o bina, para filtrar os chamados. Adeus ao amor adolescente, tão leve, tão inconsequente, tão sem deveres, tão sem responsabilidade.
Outro dia tomei coragem, telefonei e perguntei. Ela disse que tinham decidido casar no cartório, só os dois; de lá iriam direto para o aeroporto pegar um avião para algum lugar. Acrescentou que sempre soube que aquele tipo de amor, de namorados que moram juntos mas nunca colocam a aliança, não podia durar eternamente, que tudo tem um fim, a vida nos obriga a virar adultos, os dois tinham amadurecido – afinal, não eram mais crianças. E ela estava pronta para o novo capítulo de sua vida, de mulher casada. Depois de nos despedirmos, ela disse que sempre soube que crescer é doloroso, mas nunca pensou que fosse tanto.

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