terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Questão de Poder

Danuza Leão - colunista revista Claudia

A gente lê os jornais e se pergunta: por que será que as pessoas querem tanto o poder? Existem os que pensam que, com ele, vão mudar o mundo; mas será que é só por isso? Não que seja pouco – afinal, mudar o mundo não deixa de ser um grande projeto. Mas talvez haja alguma coisa de mais particular nesse desejo. Afinal, somos todos seres humanos, e a questão é: será que o poder tem tanta graça assim? Quanto mais poderosa você é, menos consegue mandar

na própria vida. Um ministro, cuja foto sai todos os dias nos jornais, pode sair com uma namorada e ir a um restaurante? Não consegue nem sair de casa sem ser escoltado pelos seguranças. Poder e dinheiro são parecidos, mas o que é melhor? Acho que bom mesmo é ter o supremo privilégio de ser dono da própria vida. Você tem? Então vamos fazer um teste. Segunda-feira de manhã; dá para ir à praia e fazer do seu dia o que bem quiser? Não, a não ser que seja seu patrão. E, quando isso acontece, aí mesmo é que não dá. Mas não era você que achava que mandava na sua vida? Quando se é criança, pior ainda. Dependemos de nossos pais até para tomar um sorvete e, se não an- darmos na linha – linha definida por eles –, podemos ser privados de todos aqueles deliciosos prazeres do mundo, do tipo ir ao cinema ou à festa no sábado. Mais tarde, já adulta, você aprende a ser responsável, e acabou-se o que era doce. A responsabilidade, ao mesmo tempo que nos abre as portas para uma vida livre, também nos impede de viver como gostaríamos, isto é, sem nenhuma responsabilidade. Aí, um dia você se apaixona, tudo dá certo, é correspondida. E por acaso uma mulher apaixonada é dona de sua vida? Quanto mais felizes no amor e na profissão, cada vez mais prisioneiras, pois aí é preciso trabalhar duro e garantir o futuro dos filhos e, mais tarde, uma velhice tranquila. Mas o poder tem grandes vantagens, sim: os poderosos não esperam por nada nem por ninguém. Parece pouca coisa, mas não é. Pense em quantos telefonemas você dá por dia e o tempo que leva para que eles – os poderosos – atendam. E a fila do elevador? Agora, responda sinceramente: se fosse dona do mundo, não teria um particular para não ter que parar em nenhum andar e não ter que ouvir gente que assobia e até fala no celular num espaço tão pequeno? Ah, deve ser bom ser o chefão de uma empresa, de um país, da máfia. Ao sair, o carro já está com a porta aberta, e alguns têm direito até a batedores abrindo o caminho no trânsito. Você já parou para pensar na razão pela qual um milionário compra um jatinho se as primeiras classes são tão confortáveis? Porque é ele quem determina a hora de decolar. Aliás, outra vantagem é ter alguém que se ocupa de carregar o seu celular, que beleza. Quando um poderoso de verdade chega, alguém chega antes para abrir as portas – em todos os sentidos. Parece pouco? Pois é por coisas aparentemente tão simples como essa que existem os golpes de Estado. Viver sem precisar esperar nem um minuto e, assim, ter mais tempo, esse é o sonho supremo dos mortais. Mais tempo para trabalhar mais e ter mais poder.
Boa sorte, dona Dilma.

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