sexta-feira, 25 de março de 2011

BASTA DE SEXO!

PAULO WAINBERG
http://paulowainberg.wordpress.com
Twitter.com/@paulowainberg

Hoje quero me dirigir à juventude mundial na esperança de que os jovens, com um pouco de sorte, cheguem lá.
São tantas e tão importantes as vantagens de ser idoso que o tema merece uma abordagem metódica, desprovida de preconceitos e de caráter eminentemente educativo.
A primeira vantagem de ser um idoso consiste em poder andar de ônibus de graça.
Eu, quando atingi esta culminância, não andava de ônibus há aproximadamente quarenta e sete anos, graças à fortuna, é claro, que sorriu para mim, permitindo que eu sempre tivesse um carro e, na eventual falta dele, andasse de taxi.
Não ia, é claro, deixar de aproveitar tamanha vantagem e a primeira coisa que fiz, no dia seguinte ao aniversário que me incluiu na qualificativa ‘idoso’, foi postar-me numa parada de ônibus.
Depois de uma agradável espera de vinte e seis minutos, sob um forte sol de primavera – sou de 28 de setembro – aproximou-se a sacolejante viatura que, com alarde de freios e bufos de motor, estacionou e abriu suas portas.
Certas coisas nunca se esquece, por exemplo, andar de bicicleta ou subir em árvores. Apoiado nessa teoria, dirigi-me à porta traseira do ônibus e, com surpresa, percebi que pessoas saiam dela e não, como eu lembrava de antigas eras, entravam nela.
Um colega idoso, arfando, teve a gentileza de me informar que a entrada era pela frente.
Como assim pela frente?, perguntei a mim mesmo. O mundo terá mudado tanto, que agora entra-se pela frente e sai-se por trás dos ônibus.
Sim! O mundo mudará tudo isto. Restou adequar-me à nova ordem e, como um bem comportado idoso, fui para a porta da frente, visando usufruir da nova condição e andar de graça no dito.
Sucedeu que o douto motorista, vendo pelo retrovisor, que ninguém mais saia e, na porta da frente ninguém entrava, não percebeu que eu pretendia ingressar, visto que, graças à idade, recém estava no meio do caminho e, sem delongas, fechou as portas e deu partida, deixando-me pendurado nos meus bolsos onde, para esconder resquícios de irritação, enfiei as mãos.
Não havia nada a fazer, salvo esperar outros tantos minutos, gozando e desfrutando do suor que o sol fazia brotar em mim, na testa, na nuca e nas costas. Nem quando eu era jovem gostei de suor nas costas. Agora, idoso, gosto menos ainda.
Mas suportei. A vantagem oferecida por ser um idoso, era suficiente para enfrentar pequenos sacrifícios.
Outros tantos minutos e um outro coletivo estabeleceu-se na parada, qual um paquiderme na frente da loja de cristais.
Desta vez, sendo eu um idoso mais esclarecido, fui direto para a porta da frente e, sem dificuldades, entrei.
Uma pequena digressão se impõe, para aqueles que pensam que sabem tudo, como era o meu caso, naquele momento.
Diante da roleta do cobrador, que me exigia o dinheiro da passagem, abri meu melhor sorriso e informei que eu era idoso e tinha, no dizer das autoridades, passe livre.
E ele:
– O senhor tem a carteirinha?
– Carteirinha? Qual carteirinha?
– Carteirinha de idoso, meu. Depressa, o senhor está trancando a fila.
Olhei para trás e vi que várias pessoas, não necessariamente idosas, esperavam, formando uma pequena fila que impedia o ônibus de seguir adiante.
– Não, não tenho. Não me disseram que precisa. Não serve minha carteira de identidade? Por ela dá para ver que tenho mais de sessenta.
– Precisa carteirinha de idoso, meu. Se não tem, tem que pagar.
Para acabar com a onda de protestos que se erguia atrás de mim, puxei o dinheiro do bolso e paguei a passagem.
Depois, buscando informações daqui e dali, fiquei sabendo que eu tinha de me cadastrar em algum lugar, levando uma considerável quantidade de documentos, além de pagar uma módica taxa, para obter a carteirinha de idoso que me garantiria passe livro no transporte coletivo da cidade.
E foi assim que desisti de aproveitar a primeira vantagem que a avançada idade me conferia, e voltei a usar o meu carro.
A segunda vantagem que descobri, por ser idoso, é que nos bancos ha um caixa preferencial para os de minha idade para cima.
Tal qual os ônibus, há muito não compareço a bancos. Novamente a fortuna sorriu para mim, permitindo que eu disponha de um funcionário de absoluta confiança, que há décadas realiza todos os meus serviços bancários.
Porém, atento à minha cidadania, não iria perder a oportunidade de usufruir dessa vantagem que a generosa lei me oferecia.
Assim foi que me dirigi ao banco onde tenho conta e, depois de me informar, descobri o local dos caixas. Um salão com cadeiras para sentar enquanto esperam a chamada pelo número, que se obtém na entrada, vários guichês e, num canto, escrito alto e bom tom, Caixa Preferencial para Idosos.
Olhei com desprezo para as filas e para os sentados e fui para minha caixa preferencial onde uma senhora, de seus setenta anos, realizava suas operações.
Aguardei quarenta e cinco minutos enquanto ela contava ao paciencioso funcionário, todas as agruras de sua vida, sobretudo as preocupações com um neto que não tomava jeito, além de relatar, minuciosamente, os motivos da próxima cirurgia a qual se submeteria, de natureza cardiovascular, pelo que pude ouvir.
E foi assim que deixei de aproveitar a segunda vantagem que a condição de idoso me oferecia. Voltei para o meu escritório e, como sempre fiz, pedi ao meu funcionário que descontasse o cheque. Ele foi e voltou em menos de quinze minutos.
Lendo a respeito, descobri que eu acabara de ingressar na chamada melhor idade, porque agora eu podia caminhar no fim da tarde, não precisava mais estudar qualquer língua, que finalmente minha tão almejada liberdade estava ao meu dispor e que, se eu quisesse, podia frequentar bailes de idosos como eu e, quem sabe, conhecer uma mulher de sessenta e oito anos perfeita para mim, minha verdadeira alma gêmea.
Sem falar no prazer de brincar com os netos, de poder conseguir todos os meus remédios em farmácias populares com preferência e, ainda, participar de encontros de auto-ajuda que me mostrariam como é bom ser velho.
Com um pouco de boa vontade, eu poderia fazer uma excursão para a Europa, ingressando em grupos especiais de idosos muito divertidos com os quais poderia conversar sobre as doenças, as dores e as lembranças.
Meus caros jovens deste mundo cruel! Cuidem-se bastante e vocês chegarão até aqui, onde estou. Não cometam loucuras, não façam bobagens e ao chegar na terceira idade, na melhor idade ou, como costumo chamar, na velha idade, vocês poderão usufruir de todas essas vantagens e, ainda por cima, haverá um monte de gente, do tipo filhos, esposa, irmãos, cunhados e filhos de amigos preocupados com você, com o que você come, com o que você deixa de comer, se você está bebendo muito, se você está fazendo exercícios e se não esqueceu de tomar os seus oito remédios diários.
Eu confesso que abdiquei de todas as vantagens da condição de idoso. Sigo como se nada tivesse acontecido e a única concessão que faço à idade é não ir aos aniversários infantis de netos de amigos.
E se, por acaso, você ficou intrigado com o título desta crônica, nada a ver, foi apenas para chamar atenção.

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