segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vozes da Legalidade

Lendo com entusiasmo a mais uma coluna de Juremir Machado, autor de “Vozes da Legalidade”, homenageando com justiça a Leonel Brizola e João Goulart, surge-me a ideia de compartilhar alguns sentimentos. Guardadas as proporções, me sinto uma “voz da legalidade”, pois pouco se fala de meu avô Jango. Eu falo, e bastante! Convicto de que sua decisão pelo parlamentarismo em 1961 foi acertada. Falo, que poucos reconhecem seu valor histórico, muitas vezes por preconceito ou ignorância, e jamais ouvi alguém dizer que meu avô foi o presidente que, com o menor tempo de mandato presidencialista, mais se empenhou na mobilização para reformas estruturais da Nação. Aliás, certamente restou condenado a morrer jovem por isso. Com estas palavras não quero ser pretensioso, mas útil.

Me orgulho de ler no Correio do Povo uma definição de “herói” para Jango. Mas quero tornar público meu agradecimento ao Juremir Machado por expor convicções sem receios e fazer justiça a uma personalidade política com quem a história foi muito injusta. Quero compartilhar minha admiração pelo Juremir, que, como Jango, se posiciona sem medo de reações conservadoras.

Falar do governador Brizola, no cinquentenário da Legalidade, o protagonista do principal movimento político depois da Revolução de 30, é mais fácil. Com louvores, o herói Leonel Brizola. Admirável homem público, exemplo a futuras gerações. Mas falar de Jango nunca foi fácil. Ouso concluir que a história conspirou contra a propagação de sua mensagem reformista. A perseguição política das ditaduras latino-americanas, o retorno num caixão ao Brasil, a impossibilidade física de continuar fazendo política depois da anistia e, principalmente, a falta de uma representação para continuar o seu legado o prejudicaram. Mas não me dou por vencido, sigo firme no propósito de honrar meu nome e minhas origens.
Nunca pretendi que a importância histórica de João Goulart seja maior do que possa ser. Mas nunca aceitarei que retirem o valor de um homem visionário, com quem a história foi injusta. A história até pode ser injusta. Nós, não! Daí a importância de “Vozes da Legalidade”. Penso que os homens devem ser analisados nas circunstâncias de seus contextos. João Goulart estava bem à frente de seu tempo. Esse foi seu maior erro.

As injustiças de ver um presidente, chefe de família, morrer na solidão do exílio. De ter a família toda desestruturada em razão de sua ausência. De não ter o reconhecimento de uma Nação pela qual dedicou sacrifício extremo. Tudo isso para ver um país ajustado socialmente. Sinto-me honrado. Os 50 anos que separam a Legalidade, os 34 de sua morte, os 21 de ditadura contribuíram para silenciar o objetivo político de meu avô. Conforme suas palavras, há momentos na história de um país em que a Nação necessita quebrar paradigmas. Assim foi na Abolição da Escravatura, na Proclamação da República, na Revolução de 30, na consolidação da CLT. Jango acreditava em 1964, ano do golpe civil-militar, que o Brasil deveria passar por processo de transformações profundas para ingressar no caminho do progresso. E hoje, passados tantos anos, alguém duvida disso?

Christopher Goulart (Diretor da Secretaria de Esporte e Lazer do RS)

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