sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DOM QUIXOTE DE LA MANCHA

“E de tanto ler histórias de cavalaria, o ingênuo fidalgo espanhol passa a acreditar piamente nos efeitos heróicos dos cavaleiros medievais e decide se tornar, ele próprio, um cavaleiro andante.”


Por Elenilson Nascimento



Casa onde Dom Quixote viveu, na Espanha


Casa onde Dom Quixote viveu, na Espanha

Casa onde Dom Quixote viveu, na Espanha


Casa onde Dom Quixote viveu, na Espanha


Em princípios de maio de 2002, uma comissão de críticos literários de várias partes do mundo escolheu o livro “Dom Quixote de La Mancha”, escrito por Miguel de Cervantes, como a melhor obra de ficção todos os tempos. E, para quem não sabe, ao tempo em que narrava os feitos do Cavaleiro da Triste Figura em ritmo dos romances da cavalaria, Cervantes “enervado” com o sucesso daquele tipo de gênero literário junto ao grande público, realizou uma das maiores sátiras aos preceitos que regiam as histórias fantasiosas daqueles heróis.


No livro, ao final de uma caçada às lebres, Dom Quixote sentindo-se exausto pediu que o levassem ao leito, percebendo ali a presença da morte. Logo os amigos chamaram um médico que recomendou que tratasse de salvar a alma porque o corpo era de pouca valia. Então algo poderoso ocorreu. Aos brados o moribundo disse ter recuperado o juízo, livrara-se das desgraçadas enfermidades. Disse abominar Amadis de Gaula, o espadachim de fantasia que tanto o inspirara. Esperou então, sereno, a morte para livrar-se daquelas assombrações.


Creio que a figura do Dom Quixote tem muito mais de Cervantes do que os biógrafos oficiais contam. Ele, até os cinquenta anos vivera com criada, sobrinha e um rapaz que servia de faz tudo (*entenda como quiser), numa fazendola na província da Mancha, uma espécie de brejo-seco do Reino de Castela, na Espanha. Desocupado, empobrecido, passara os dias lendo os feitos dos heróis da cavalaria. Até que um dia, conta o próprio Cervantes, de tanta leitura, seus miolos ressecaram.


Imitando então aquela brava gente que povoava os seus sonhos, cismou em querer consertar as “coisas tortas” e desfazer os agravos do mundo. No livro, um cavalheiro manda pôr uma sela em Rocinante, seu maltratado pangaré, calça as velhas armas dos seus antepassados, um escudo, e saiu a trote atrás de façanhas que lhe dessem renome.


E de tanto ler histórias de cavalaria, o ingênuo fidalgo espanhol passa a acreditar piamente nos efeitos heróicos dos cavaleiros medievais e decide se tornar, ele próprio, um cavaleiro andante. Para tanto, recorre a uma armadura enferrujada que fora de seu bisavô, confecciona uma viseira de papelão e se auto-intitula Dom Quixote de La Mancha. E como todo cavaleiro, ele precisa de uma dama a quem honrar. Elege então uma lavradora que só conhece de vista e a chama de Dulcinéia. Depois de tomar essas providências, monta em seu decrépito cavalo Rocinante e foge de casa em busca de aventuras.


Após um dia inteiro de caminhada sob o sol, depara com uma estalagem, que em sua mente perturbada se converte num castelo, onde pede para ser ordenado cavaleiro pelo estalajadeiro, que quase não consegue conter o riso. No dia seguinte, ao investir contra o grupo de comerciantes que vê como adversários, cai de Rocinante e tem seu corpo moído por pauladas. Um conhecido da aldeia encontra o cavaleiro, entre gemidos e lamentos, e o conduz novamente à sua casa. Seguindo aos conselhos do Pe. Tomás e do barbeiro Nicolau, a ama e a sobrinha queimam seus livros e lacram a porta da biblioteca.


Enquanto todos acham que a estratégia da destruição dos livros havia sido um sucesso, Dom Quixote, pensando tratar-se de uma magia de algum cruel feiticeiro, resolve voltar à aventura, agora acompanhado do escudeiro Sancho Pança: um ingênuo e materialista lavrador, que aceita seguir o fidalgo pela promessa de uma ilha para governar.


As viagens se sucedem sob a alucinação de quem está vivendo no tempo da cavalaria. Em suas andanças, Dom Quixote encontra moinho de vento que confunde com gingantes. Arremete contra um dos moinhos, cujas pás, devido a um vento mais forte, lançam o cavaleiro para longe. O escudeiro socorre seu mestre. Dom Quixote não dando o braço a torcer, diz que o feiticeiro, ao notar que o cavaleiro estava vencendo, transformou os gigantes em moinhos.


Muito mais adiante confundindo dois rebanhos de carneiros com exército de inimigos, avança contra os animais e mais uma vez é surrado, pelos pastores; além de ser pisoteado pelas ovelhas. No chão em meio ao estrume dos animais, ferido e desdentado, recebe do escudeiro a alcunha de “O Cavaleiro da Triste Figura”. E no desejo de combater as injustiças do mundo e homenagear sua dama, o nobre e patético personagem segue viagem enfrentando situações supostamente perigosas e sempre radículas: imagina gigantes em rodas-d`águas; vê um cavaleiro de elmo dourado em um barbeiro; ajuda criminosos a fugirem, pensando estar libertando escravos. De suas desventuras, restam-lhes sempre os enganos, as surras, as pedradas e as pauladas.À beira da estrada, o cavaleiro da triste figura e seu fiel escudeiro encontram abrigo e deparam com o Pe. Tomás e o barbeiro Nicolau, amigos da aldeia onde moram e que estão à sua procura. Os dois convencem Sancho a ajudá-los e acabam levando, mais uma vez, e agora enjaulado, Dom Quixote para casa. Lá, cansado doente e abatido pelos reveses e pelas surras que levara, o fidalgo sossega. Até receber a visita do bacharel Sansão, que traz consigo um livro narrando As estranha aventuras de Dom Quixote. Com a fama, o cavaleiro tem seu espírito aventureiro revigorado e mais uma vez, convencendo Sancho Pança a acompanhá-lo, parte para a estrada, ainda guiado pelo amor de Dulcinéia e pelo desejo de vencer o perverso feiticeiro e, com ele, as injustiças do mundo.


Em Toboso, à procura de sua amada, Dom Quixote encontra três lavradoras montadas em asnos, carregando repolhos para o mercado. Sancho diz que se trata de Dulcinéia e suas damas de companhia, tentando convencer Dom Quixote. Ao se ajoelhar diante de sua sonhada dama, o cavaleiro leva uma repolhada na cabeça. Sancho diz se tratar de um anel de esmeralda enfeitiçado em repolho, e Dom Quixote guarda a “prenda” na bolsa, duvidoso, todavia satisfeito.


Disfarçado em cavaleiro dos Espelhos, o baixinho Sansão desafia Dom Quixote, no intuito de levá-lo para casa e, com isso, agradar a sobrinha do fidalgo. Mas, traído por seu cavalo, que prefere comer grama ao duelar, perde o combate. Adiante, Dom Quixote encontra um duque e uma duquesa que, por já terem lido o livro com suas aventuras, resolvem se divertir à custa da dupla: disfarçado em feiticeiro Merlin, o duque inventa um suposto cavalo mágico de madeira que levaria Dom Quixote até o perverso feiticeiro. Vendam o cavaleiro e o escudeiro sobre a “mágica montaria” e chacoalham o cavalinho de balanço, enquanto os dois pensam estar voando. Ao atear fogo no rabo do cavalo, recheados de fogos de artifício, o cavaleiro e o escudeiro são lançados à distância.


Seguindo viagem, com mais alguns arranhões, Dom Quixote e Sancho Pança ouvem um grito assustador, é o Cavaleiro da Lua Cheia (na verdade, Sanção, agora mais bem preparado e decidido). Que desafia o Cavaleiro da Triste Figura: quem perder o combate terá de pôr fim à sua vida de cavaleiro andante. Sanção vence, e o triste fidalgo volta ao lar. (“DOM QUIXOTE DE LA MANCHA” de Miguel de Cervantes, 222 págs, tradução Ferreira Gullar, Editora Revan)


Um dos episódios do Sítio do Picapau Amarelo no ano de 1979 foi justamente com o Dom Quixote. Na cena o Visconde de Sabugosa, vivido pelo saudoso André Valli, leva uma pancada na cabeça e se transforma em Dom Quixote. Puxa que saudades dessa época. Reparem nos efeitos especiais:



Fonte: http://comendolivros.blogspot.com/2010/08/dom-quixote-de-la-mancha.html

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