quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Artigo "O Silêncio que constrange", por Christopher Goulart



O SILÊNCIO QUE CONSTRANGE
“Não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a voz do povo, dos seus legítimos líderes populares, fazendo calar suas reivindicações” Quem proferiu está frase, de improviso, foi o Presidente Jango, no maior comício público de nossa história, ocorrido no ano de 1964. E foi exatamente esta convicção inabalável que o condenou a morrer doze anos depois, no dia seis de dezembro de 1976. Há trinta e cinco anos, falecia no exílio João Belchior Marques Goulart. Sem direito a um luto oficial decretado pelo Brasil. O regime ditatorial da época sequer permitiu, num primeiro momento, que o corpo do Presidente da República retornasse por terra. Um silêncio constrangedor foi a versão oficial do Governo.
Jango jamais retomou o espaço político que lhe foi violentamente tomado. Nunca pode defender-se de tantas calúnias, sejam elas de ordem pessoal, sejam elas proferidas contra seu projeto de Nação fundamentado nas reformas de base. Sendo assim, nesta data reflexiva, há que se perceber que o esquecimento de seu legado foi propositalmente planejado por ditadores de plantão. Durante os vinte e um anos de regime de exceção, não era permitido falar em público nas exigências e necessidades objetivas do processo de desenvolvimento nacionalista deflagrado no país no Governo João Goulart. A pena para os cidadãos preocupados com o advento da consciência nacional e popular poderia ser perseguição, exílio, tortura ou morte. Por isso, silêncio!
A quem interessa falar que no Governo de Jango o Brasil construía confiante sua capacidade transformar-se para superar o atraso e acabar com a pobreza quando sobreveio o golpe de 1964? Em breve serão lembrados os cinqüenta anos do golpe civil-militar, e fatalmente estaremos fadados a refletir que pouca coisa mudou, a ponto de ser a erradicação da miséria um dos maiores objetivos do Governo da Presidenta Dilma. Logo, o restabelecimento da verdade é um dever cívico que se impõe. Foi justamente no Governo de Jango que a população brasileira mais intensificou o debate democrático sobre as necessárias transformações políticas, sociais e econômicas. As massas, conscientes do processo de desenvolvimento em andamento, representavam uma ameaça para as elites nacionais e internacionais. Tinhas de ser caladas. E foram.


Ainda hoje impera um manto de silencio sobre Jango, orquestrado por parte de diversos setores conservadores da sociedade. É necessário um esforço de conscientização coletiva para restabelecer verdades e desfazer versões. Trinta e cinco anos de silêncio devem servir de estímulo para falar com intensidade, por exemplo, sobre a Lei de remessa de lucros e a reforma agrária, marcas indeléveis de seu governo. Já é tempo suficiente para admitir que João Goulart foi o Presidente que mais mobilizou a Nação brasileira com o objetivo de reformar profundamente as estruturas e instituições ultrapassadas que impedem ainda hoje o desenvolvimento do Estado brasileiro. É tempo de falar para nunca mais calar.

Christopher Goulart
Presidente do Memorial João Goulart

Nenhum comentário: