domingo, 19 de fevereiro de 2012

Woody Allen fala sobre sua vida e processo de criação em filme

FRANCISCO QUINTEIRO PIRES

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK





Como Woody Allen não acredita no próprio sucesso, a vida do documentarista Robert Weide se tornou mais difícil. Por quase três décadas, Weide esperou um sim do diretor nova-iorquino para os seus pedidos de entrevista.

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"Allen sempre dava uma resposta educada e negativa", diz ele. "Segundo o seu argumento, ninguém se interessaria em ver e exibir um filme sobre ele, 'um tema que não vale a pena'."



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Woody Allen ao lado da máquina de escrever comprada aos 16 anos, com US$ 40, na qual cria os seus roteiros
Woody Allen ao lado da máquina de escrever comprada aos 16 anos, com US$ 40, na qual cria os seus roteiros

As filmagens de "Woody Allen, A Documentary" começaram em outubro de 2008, depois de Weide enviar uma carta para explicar por que "era a pessoa certa para aquela empreitada".

Para ter sua autorização, o diretor conta que ajudou o fato de terem os mesmos heróis culturais. Weide se refere ao comediante W.C. Fields e aos irmãos Marx, temas de dois filmes produzidos por ele.

Exibido pelo canal público PBS em novembro de 2010 --à venda em DVD na Amazon, no próximo mês--, o documentário de 192 minutos está dividido em duas partes.

O primeiro segmento aborda a infância de Allen em Midwood, região do Brooklyn habitada por judeus, e termina com o lançamento de "Memórias" (1980), uma crítica ao preço da fama.

A segunda parte comenta a separação escandalosa entre Allen e a atriz Mia Farrow, em 1992, motivada pela relação dele com Soon-Yi Previn, filha adotiva da atriz.

O diretor se casou com Soon-Yi, até hoje a sua mulher. Farrow e a filha adotiva não figuram entre os mais de 40 entrevistados por Weide.

PRODUTIVIDADE

Apesar de ter se tornado fã de Woody Allen na infância, após ver "Um Assaltante Bem Trapalhão" (1969), Weide, 52, não havia notado como o cineasta, diretor de 42 longas-metragens, é produtivo.

"Ele lançou um filme por ano durante quatro décadas. Quando não escreve ou dirige, ele está editando."

Indicado ao Oscar de documentário por "Lenny Bruce: Swear to Tell The Truth" (1998), Weide afirma sentir vergonha por ter demorado mais de um ano e meio para concluir "Woody Allen".

"No mesmo período, ele estaria no fim do segundo filme", diz o diretor. "Allen acredita na quantidade. Dirigindo um longa-metragem após o outro, talvez ele possa apresentar o que chama de 'uma obra razoável', quem sabe, 'até boa'."

Weide teve acesso às filmagens de "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" (2010), em Londres, e acompanhou o diretor durante a première de "Meia-Noite em Paris" (2011) --indicado ao Oscar deste ano nas categorias melhor filme e melhor roteiro, e maior sucesso de bilheteria de Allen.

Também na disputa pelo Oscar de melhor diretor, Allen, 76, continua mergulhado em sua rotina ininterrupta. Ele está finalizando "Nero Fiddled", comédia filmada em Roma. O lançamento será no segundo semestre.

"Embora não seja tratado assim, Allen é um diretor independente", fala Weide. Ninguém lê os roteiros criados na máquina de escrever que ele comprou aos 16 anos. "Ele só agrada a si mesmo."

Em conversa informal, Allen revelou ao documentarista que "o segredo é manter o orçamento baixo".

Segundo Weide, nem Alexander Payne nem Martin Scorsese, também indicados ao Oscar, têm a mesma autonomia. "Eles precisam obter dos produtores a aprovação do roteiro." Ao fazer filmes econômicos, Allen conquistou a alforria cinematográfica.



Fonte: Folha de SP

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