segunda-feira, 1 de outubro de 2012

REINAÇÕES DOS DESOCUPADOS, texto do jornalista Marcos Tavares


MARCOS TAVARES

REINAÇÕES DOS DESOCUPADOS

Publicado no Jornal da Paraíba em 16/09/2012

Querem retirar a obra de Monteiro Lobato, bani-lo do currículo escolar, trancafiá-la em eternas prisões. Tudo em nome do politicamente correto, um movimento tipo “besteirol” que de repente tomou conta do país. O pecado maior de Lobato - um dos nossos maiores escritores - é chamar em seus livros Tia Anastácia de negra, como se definir a cor da pele fosse um crime gravíssimo punido com a inquisição da censura e purgatório eterno.

Primeiro precisa-se levar em conta o contexto e o tempo em que viveu e escreveu Monteiro Lobato. Era um tempo de palavras livres onde negro não era ofensa, era a definição de um tipo de cor de pele. Criado no interior paulista, Lobato claro que absorveu todos os costumes e cacoetes de um povo recém saído do regime de escravidão, onde serviçais negros eram considerados apêndice da casa, bens semoventes do patrão.
Só que essas referências na obra de Lobato são tão passageiras e ingênuas que não chegam a comprometer sua grandiosidade nem retirar sua pureza. A ofensa dos que hoje se sentem atingidos por essas poucas reinações de Lobato é sim, o mais puro racismo, uma tentativa de criar guetos num país que tem um pé na cozinha e outro na senzala. Liberem Monteiro para encantar nossas crianças assim como encantou gerações e nunca foi responsável pelo racismo de ninguém, uma mácula cultural que tem outras raízes bem além do Sítio do Pica –Pau Amarelo.

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