quarta-feira, 10 de julho de 2013

Artigo "Confidencial", por christopher Goulart


CONFIDENCIAL
O ano era 1976. Em 17 de setembro, mais precisamente, um Documento do Serviço Nacional de Informações (SNI) reportava com o título “O Retorno de João Goulart”, a preocupação dos Militares com a possível volta de Jango ao Brasil. Esta é uma das inúmeras evidências de um crime político, que constam atualmente nos autos da ação civil pública, tramitando no Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul. Destacado no alto do tal documento um carimbo chama a atenção: “Confidencial”. 
Recentemente o Estado brasileiro, através da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e Comissão Nacional da Verdade, acolheu o pedido da família para a realização da exumação nos restos mortais de João Goulart. Nada fácil a solicitação deste doloroso procedimento. Mas a questão inquietante que reverbera nas nossas consciências é sempre a mesma. Podemos permanecer eternamente com a dúvida? 
Acredito que hoje tal esclarecimento é devido não apenas para a família, mas ao país inteiro; ou ao menos àqueles que não se acomodam com as injustiças, ocorridas em qualquer tempo. Transcorreram-se 49 anos da derrocada de Jango. 36 anos se passaram de sua morte. E aí? Em razão do tempo deveríamos então permanecer inertes como Nação? Alguns são categóricos: “Melhor deixar assim. O resultado da exumação é duvidoso”. Outros alegam que não mudaria nada. Para estes, simplesmente, a busca da verdade não importa mais.  
Concordo com Oscar Wilde, que escreveu um dia “a verdade jamais é pura e raramente simples”. Porém, enganam-se os que pensam que o Presidente deposto não representava ameaça nenhuma para o Regime Militar, por estar no exílio. Jango era a personificação da queda das liberdades democráticas em troca da brutalidade da força das armas. Os dez anos de sua cassação política decretada pelo primeiro Ato Institucional de 1964 já haviam cessado. Logo, seu retorno estava sendo articulado com o seu consentimento. Tal regresso ao Brasil teria ampla repercussão no mundo inteiro, e obviamente seria inconveniente na época, pois o regime Militar preparava a abertura política para a Democracia.   

Porque eliminar o Presidente? Jango não representava apenas os janguistas, os trabalhistas; representava, em caso de abertura política, a restituição viva da Constituição traída, representava a união dos brasileiros em restaurar o sistema democrático, era o símbolo do retorno da legalidade e dos direitos civis. A exumação é o ponto final desta história que não descansa na busca da verdade. 

  Christopher Goulart
Vice-presidente da FASC

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