segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Teoria do medalhão

No conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis, o pai aconselha o filho, o abestalhado Janjão, 21 anos completos, a como triunfar na vida – seja no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes.

Entre os conselhos, como a manha da bajulação e da queda pelo foguetório da publicidade, alerta o donzelo sobre a esperteza de ter sempre na manga do paletó uma função de reserva, para o caso de não prosperar no ramo profissional desejado: “…assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição,” soprou o velho para o jovem almofadinha.

O sonho maior é ser um medalhão, mas se não der, por que não tornar-se apenas um bom advogado?… Se não der em um bom advogado, por que não ganhar a vida como um rábula de porta de cadeia, ainda mais no mundo de tantos corruptos á procura de habeas-corpus?

Política

O mesmo vale nos dias de hoje nas raias da política, da cultura, do entretenimento e da fama. Não conseguiu emplacar como um bom ator? Ora, grave um disco. Não conseguiu brilhar como cantora? Não faz mal. Tente ser apresentadora de programa infantil… Faltou financiamento para o cinema? Bem-vindo ao jornalismo, como fez o Arnaldo Jabor, para o bem ou para o mal de um dos dois.

Baseado na teoria do conto machadiano, este escriba, que acabou nas redações por falhar seguidas vezes no concurso do Banco do Brasil – sonho de todo bom pai do interior – deixa seus conselhos, ou melhor, pitacos à bagatela, para aqueles que procuram fugir do atoleiro das obscuridades, independentemente dos ofícios que abracem:

Nome próprio – Não careces enfiar tantos ll dobrados, kk, ys e quetais, mas é bom que tenhas um batismo artístico curtinho. Em 1942, Mário de Andrade já alertava o então Fernando Tavares Sabino, que derramara no papel os primeiros contos, a cortar um dos sobrenomes. Dito e feito.

Ideias – “O melhor será não as ter absolutamente”, como diz o pai do Janjão, o mancebo citado logo ali, na cumeeira desta crônica.

Ironia – Eis o ímã para chamar inimigos e puxadores-de-tapete aos borbotões. Nem diante do espelho deves ensaiar este movimento de canto de boca, recurso inventado, segundo o pai de Janjão, por algum grego da decadência.

Citações – A depender do auditório. Como todo bom mineiro sabe, em terra de sapo… de cócora com ele. Em um ambiente sério e respeitoso, Shakespeare, sempre Shakespeare; entre mulheres e gays, Wilde, muito Oscar Wilde.

Importante: não te apresses a dizer o nome do feliz proprietário da frase, omita-o. Para quem sabe a autoria, não haverá nenhum pecado nisso; e aos ouvidos dos tolos, soará como uma boutade de sua mente privilegiada. Arrancarás suspiros!

Metáforas – Tão-somente as ululantes.

Bajulação – Não te limites a acariciar os chefes, críticos e demais pessoas que possam te ajudar neste alpinismo apenas com os adjetivos da submissão e da mesquinhez. Mimos retóricos não bastam – nem mesmo quando embutem um certo jabá do erotismo e do assédio.

Estas criaturas-degraus devem ser tratadas a pão de ló e caros presentes, não te envergonhes e trate-os além muito além das tuas próprias posses.

Metafísica de mulherzinha – Excelente, indispensável. Trata-se daquele discurso sub-Clarice Lispector, com um pouco de sub-Fernando Pessoa, com o qual, sendo tu fêmea ou não, escriba ou não, narras as tuas dúvidas e inseguranças mais comezinhas, teus lunduns telefônicos, teus queixumes de banheiro, tuas incomunicabilidades de TPM, teus eus perdidos que enchem o saco de todos os nossos outros eus.

& Modinhas de fêmea
Se nada dito arriba der certo, ora, use a sedução-mor da esquina, aquela boca brilhante de quem acabou de comer um galeto de rua ou padaria, o galetinho que deixa nos beiços o brilho do gloss para toda a vida, que coisa mais linda!

Por Chico Sá

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