segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Fio Da Memória

por Celso Sisto

 
DOYLE, Roddy. É a cara da mãe. Ilustrações de Freya Blackwood. Tradução de Rosa Amanda Strausz. Rio de Janeiro, Galerinha Record, 2009. 36p.

Nós só somos o que somos porque temos memória. Ela nos liga aos outros membros da família, aos lugares, ao nosso tempo, à nossa própria história. E as lembranças, vão costurando a memória, perfumando momentos e iluminando o que não pode ficar esquecido.
Este livro é a história de Siobhán, uma menina que perdeu a mãe aos três anos de idade. Sem irmãos, tios, primos ou avós, ela é criada só pelo pai, num confortável e atraente casarão. Ele cuidava muito bem da filha, mas era quieto e caladão. Nunca conversavam sobre a mãe, apesar de fazerem muitas coisas juntos, inclusive, lerem livros toda sexta-feira, comerem pizza ou verem televisão. Aos 10 anos Siobhán começou a esquecer do rosto da mãe. Lembrava-se das mãos, da voz, de algumas palavras que ela dizia; via pela casa objetos que foram dela, mas nenhuma fotografia. Isso deixou a menina mais triste por dentro. Até que um dia, no parque, ela conheceu uma mulher que lhe ajudou a desabafar, que a ouviu, que a ajudou a libertar um pouco da tristeza, e que, por fim, contou-lhe, no ouvido, um segredo, um recado para ser transmitido ao pai da menina. Siobhán voltou para casa, passou a se olhar mais no espelho, começou a perceber em si o retrato da própria mãe; o tempo passou, ela, por sua vez teve uma filhinha e um dia, todo o segredo daquela mulher é revelado.
Uma das coisas que mais chama a atenção no livro é a atmosfera de carinho e afeto que circunda a história. Apesar do tema meio triste, a história é contada de um jeito que a deixa, principalmente bonita, e até com uma certa leveza.
O texto tem uma linguagem bem cotidiana, mas é melódico, direto, sem rodeios e consegue criar uma intimidade com o leitor. Os personagens têm um ligeiro toque de bom humor (apesar de tristes!) e a vida flui tão agradável, que chega a dar vontade de estar nos cenários da história, acompanhando aqueles personagens bem de perto.
O que fica mais forte, pulsando por baixo do texto é um apelo ao diálogo. O diálogo entre as pessoas, o diálogo para aliviar as dores, o diálogo para aproximar, estreitar os laços, para recuperar a felicidade.
As ilustrações são feitas em aquarela e isso contribui muito para a atmosfera da história, para conservar nas imagens um tom poético, afetivo, mágico. Imgens grandes, de páginas inteiras. Mas repare, principalmente, nos olhos dos personagens! Olhos miudinhos!
A ilustradora é escocesa e o escritor é irlandês. Mas também é importante uma tradutora autora, como a deste livro. Uma bela tradução eleva ainda mais o estado de graça de um bom livro!

02/06/2011

www.artistasgauchos.com.br 

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