segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

6 de dezembro: a História não morre

“A história não se detém nem com a repressão nem com o crime”. A frase foi proferida pelo presidente Salvador Allende, em seu último discurso diretamente da sede do Governo do Chile, transmitido por rádios, antes de o Palácio La Moneda ser bombardeado e Allende ser assassinado.

No Chile, assim como no Brasil, muitos gostariam de deter a história, ou quem sabe esquecer-se de boa parte dela. Então, aos esquecidos, que um dia acreditaram que a repressão e o crime de Estado poderiam gerar amnésia na população brasileira, vai um aviso: dia 6 de dezembro é dia de lembrar de um ilustre brasileiro.

Há exatos 34 anos, morria João Goulart – o Jango – vítima de um infarto fulminante, aos 57 anos de idade. Meu avô jamais pôde retornar ao seu país, depois de ser arrancado do governo pelo golpe de 1964 por ser considerado um subversivo. Qual o motivo de tamanha condenação? Jango se empenhou para ver uma pátria livre, mas principalmente uma nação mais humanitária. As reformas de base apavoraram as elites na década de 1960. Até hoje, falar em reformas políticas é um pavor para segmentos e indivíduos privilegiados pelas injustiças que meu avô combatia.

Este artigo não tem a intenção de fazer um apanhado histórico da vida de meu avô. Quero apenas fazer uma homenagem. Por mais cruel que tenha sido a repressão no Brasil, ela não evitou a transmissão de sangue para as veias das novas gerações. E, nesta data de aniversário de morte de meu avô, preciso falar do orgulho que tenho de ser neto de um mártir da democracia brasileira. Poucos lembram. Mas eu não esqueço jamais.

Uma ditadura de mais de 21 anos se encarregou de vasculhar com eficiência a vida pessoal e pública de meu avô. Nunca encontraram nada para macular sua imagem. Tanto que Jango não ficou marcado na história como corrupto, ladrão ou outros adjetivos que servem para muitos políticos de ontem e de hoje. Não. Meu avô foi taxado de fraco. Um fraco que teve a coragem de enfrentar a um Império. Quem fraquejou mesmo foi seu coração, por não agüentar tamanha injustiça. Morreu como um peão sem encontrar o caminho de volta à sua estância.

Nesta data, não quero lembrar da tristeza de seu enterro em São Borja. Era o fim da vida de um homem bom e querido pelo povo. Sua mensagem interessa mais, pois ela continua viva. Ao assumir a Presidência da República em 7 de setembro de 1961, mesmo com tanto ódio desencadeado por parte das elites, com toda sua simplicidade, meu avô proferiu em seu discurso de posse: “Prefiro harmonizar a acirrar ódios, prefiro pacificar a estimular ressentimentos”. Saudades de João Belchior Marques Goulart.

Christopher Goulart

Presidente do Memorial João Goulart – São Borja.

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