sábado, 28 de abril de 2012

35 anos e anistiado


Há poucos dias tive a honra de receber um pedido oficial de desculpas por parte do Estado brasileiro. Foi em uma das sessões da Caravana da Comissão da Anistia, ocorrida em Porto Alegre. Hoje, com 35 anos de idade, certamente devo ser um dos mais jovens anistiados políticos do Brasil. Entendo justo e merecido este reconhecimento, fundamentado pelo fato inconteste de meu nascimento no exílio. Mas não apenas isso. Minha família foi submetida a uma perseguição exaustiva e implacável durante todo o período em que esteve fora do Brasil. Foi necessário meu avô Jango retornar morto, provavelmente assassinado, diretamente do exílio, para acalmar os ânimos de muita gente por aqui que sentia a preocupação do Presidente João Goulart retornar para a vida pública e comandar novamente os destinos da Nação. 
Quero dizer, em breves palavras, que não se trata apenas do meu país não ter me proporcionado a possibilidade de nascer na minha Pátria. O que questiono é até onde persistem os prejuízos morais e a desestabilização familiar que uma ditadura atinge dentro de uma família. Faço parte de uma terceira geração depois de Jango. Posso garantir, não há ódio em meu coração. Mas há sim uma sede insaciável por justiça. 
Tampouco pretendo fazer desta uma causa pessoal. Com a aproximação dos 50 anos do golpe civil-militar, data esta onde certamente o país formulará uma reflexão pública sobre os motivos reais da derrocada de meu avô da Presidência da República, faz-se necessário ampliar os horizontes. Entender nossa exata dimensão de cidadão dentro de um processo evolutivo nacional. Contribuir transformando qualquer tipo sofrimento causado no passado, em força para a militância que se faz necessária no presente para as grandes transformações do país.
O país deve sim desculpas a inúmeras famílias que foram destroçadas. O país deve explicação para uma geração inteira tolhida de exercer seus direitos democráticos. Mas apesar de tudo, é tempo de levante e não de retirada. Não há tempo para lamentações. É tempo de analisar  os profundos cortes ocasionados num passado recente pelo Estado brasileiro, mas olhar o futuro com a alma leve e espírito renovado para construirmos um país muito melhor. 


Christopher Goulart
Anistiado Polític

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